domingo, 26 de setembro de 2010

Polícia Civil de SP usa caixa 2 em obras, acusa empreiteiro


A Polícia Civil de São Paulo pagou R$ 40 mil, em notas, a um empreiteiro, sem exigir recibo ou nota fiscal, segundo depoimento dele à Corregedoria obtido pela Folha. Dinheiro vivo e ausência de recibo são características clássicas de caixa dois.

O episódio ocorreu em outubro do ano passado, no 9º andar do Palácio da Polícia, onde funciona a cúpula da delegacia geral, na região central de São Paulo, de acordo com relato do empreiteiro Wandir Falsetti.
"Recebi em numerário, em dinheiro vivo. Nunca tinha visto isso antes", disse ele em entrevista à Folha.

O dinheiro, ainda de acordo com Falsetti, foi entregue pelo delegado Marcus Vinicius Vieira, de um órgão chamado Apafo (Assistência Policial para Assuntos Financeiros e Orçamentários).

O empreiteiro conta que sua empresa, a Arte Nossa Soluções para Home & Office, reformou em 20 dias o prédio que desde fevereiro do ano passado abriga o Denarc (Departamento de Narcóticos), no Bom Retiro, também no centro da cidade.
À época, o governador do Estado era José Serra (PSDB).
A obra, orçada em R$ 200 mil, foi realizada sem licitação ou qualquer outro documento oficial, segundo o delegado Everardo Tanganelli Jr., chefe da divisão de narcóticos até fevereiro de 2009.

Os próprios policiais ajudaram a pagar a mudança e parte da reforma, afirma Tanganelli Jr. Ele diz ter dado R$ 20 mil para o empreiteiro.
O chefe dos investigadores entregou um carro, uma Montana 2007, no valor de R$ 28 mil. Outros três policiais deram R$ 33 mil, diz o empreiteiro. Ele reclama que o Estado lhe deve R$ 80 mil.

Tanganelli Jr. e os policiais que pagaram parte da obra estão sob investigação da Corregedoria da Polícia Civil.

O raciocínio por trás da investigação da Corregedoria é mais ou menos óbvio: policiais que dão dinheiro do próprio bolso a um empreiteiro vão tentar, um dia, recuperar esses valores.

O delegado diz que pagou parte da obra do próprio bolso porque não tinha saída.
"Não fiz nada de errado. Paguei porque precisava trabalhar. Tinha sala com um monte de rato e lixo", disse Tanganelli Jr. à Folha.
Ele afirma também que a mudança foi imposta pelo então delegado-geral, Maurício Lemos, que não quis se pronunciar sobre o assunto.

Tanganelli Jr. foi afastado do Denarc no início do ano passado pelo secretário da Segurança, Antonio Ferreira Pinto, por causa das sucessivas suspeitas de que policiais de sua equipe recebiam propina de traficantes de droga.
O Denarc funcionava no prédio do Instituto de Criminalística, no Butantã, zona oeste. O ex-secretário Ronaldo Marzagão diz que o plano de tirar a divisão de narcóticos de lá visava melhorar as instalações da polícia científica. Diz que nunca soube que o prédio escolhido foi reformado à margem da lei.Na folha

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