O apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenciável petista Dilma Rousseff será o fator de desequilíbrio na disputa pelo governo do Amazonas. Lula e Dilma são disputados pelos dois principais pré-candidatos ao governo estadual, o governador Omar Aziz (PMN) e o senador Alfredo Nascimento (PR). Estado que proporcionalmente tem o maior PIB industrial do Brasil, em função da Zona Franca de Manaus, o Amazonas politicamente não sai da órbita federal desde 1982.
"Isto acontece porque o poder do governo é muito grande no Amazonas. Nos outros Estados, a iniciativa privada contrabalança este poder. Mas os empresários que atuam na Zona Franca não estão aqui, e sim em São Paulo ou até no Japão. Não há um único amazonense dono de uma indústria de grande porte", explica Nascimento, que foi ministro dos Transportes até abril. O apoio de Lula é estratégico porque a Presidência da República, que controla a Zona Franca de Manaus, é a única instância a se contrapor ao governo estadual. "O Amazonas é o Estado mais federalizado do Brasil. A Zona Franca é 90% da economia e está sob controle de Brasília", afirma a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB), pré-candidata ao Senado na chapa de Aziz e empenhada em tentar inviabilizar o apoio exclusivo de Lula e Dilma a Nascimento.
Segundo dados das Contas Regionais do IBGE de 2007, que são os últimos disponíveis, o PIB da indústria de transformação no Amazonas era maior do que a soma de outros oito Estados. Em termos absolutos, só perdia para o da Bahia nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A contribuição da indústria no PIB regional era de 27,3%, ante 19,1% em São Paulo ou 16,2% no Rio Grande do Sul. Mas são raros os tomadores de decisão que ficam no polo industrial do Estado. Segundo o anuário "Valor 1000" de 2009, no setor de indústria, a maior empresa é a Moto Honda, de capital japonês. A segunda é a LG, coreana. A terceira é a americana Procter & Gamble. A quarta é a Semp Toshiba. A quinta, Videolar, é sediada em Barueri (SP). Seu dono, o gaúcho Lirio Parisotto, está cotado para ser o segundo suplente na chapa do ex-governador Eduardo Braga (PMDB) ao Senado.
O Amazonas foi o palco da maior vitória proporcional de Lula em 2006, quando ele obteve no Estado 87% dos votos no segundo turno. Com o apoio do PMDB e do PCdoB, Omar Aziz reivindica a neutralidade da candidata presidencial na disputa com Nascimento, que está aliado ao PT, PSB e PDT. "Deixei claro para a Dilma que vou lutar pela eleição dela. Ela representa a continuidade de um governo e eu também", afirma Aziz, filho de palestinos que foi vice-governador nos dois mandatos de Braga e vice-prefeito durante a gestão de Nascimento em Manaus.
Completamente vinculado ao ex-governador, Aziz fez questão de conceder entrevista ao lado de Braga. O pemedebista sugeriu uma fórmula de convivência e fez uma ameaça velada: "Quem organiza o palanque de um candidato a presidente é o próprio candidato. Se o presidente ou a Dilma vierem a Manaus, convidam a base para estar junto deles. O Omar é integrante desta base e nós queremos respeito e reciprocidade."
Em 2006, Lula conseguiu demover Nascimento de se candidatar ao governo do Amazonas, abrindo caminho para a reeleição de Braga. Nascimento lançou-se candidato ao Senado contando com o apoio de Lula em 2010, que está se materializando com a aliança com o PT. No mês passado, em um acordo patrocinado pelo Planalto, o ex-prefeito de Manaus Serafim Corrêa (PSB) retirou a sua candidatura ao governo estadual para ser vice do senador. Braga diz que não houve acordo nenhum com ele. "Isso não pode ser construído em Brasília. O senador não pactuou nada aqui no Estado", diz o pemedebista.
Graças a Braga, Aziz recebeu o apoio de toda a base que sustentava o antigo governador: conta com seis dos oito deputados federais, 20 dos 24 deputados estaduais e a esmagadora maioria dos prefeitos, entre eles o de Manaus, o por três vezes governador do Amazonas Amazonino Mendes (PTB). Impedido de se candidatar este ano ao perder o controle de seu partido e ter um vice, Carlos Souza, irmão do ex-deputado estadual Wallace Souza, que está preso e acusado de comandar um grupo de extermínio, Amazonino indicou em declarações à imprensa local que ficará neutro. Mas na semana passada participou de um evento em Tefé, no interior do Estado, ao lado de Braga e Aziz. Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, Amazonino não retornou os pedidos de entrevista.
Nascimento tentará a exclusividade do palanque. "É o tempo que mostrará isso. O palanque duplo é complicado porque minha campanha será de oposição ao governo estadual. O PT está coligado comigo e Dilma e Lula só podem gravar na televisão para mim. O compromisso do Lula é comigo e com o Eduardo (Braga), não com o Aziz", diz Nascimento. Ligeiramente à frente nas pesquisas locais de intenção de voto, Nascimento tentará um feito raro no Estado: desde 1982, quando Gilberto Mestrinho retornou ao poder pelo PMDB, a máquina estadual não é derrotada nas eleições locais. Em 1986, Mestrinho ajudou a eleger Amazonino. Em 1990, Amazonino devolveu a gentileza a Mestrinho. Em 1994, Mestrinho ficou neutro e Amazonino retornou ao poder, reelegendo-se em 1998. Em 2002, surpreendeu ao apoiar Eduardo Braga, que estava na oposição. Em 2006, Braga se reelegeu.
A dependência federal é a chave que explica as votações retumbantes de Lula nas eleições de 2002 e 2006. Em 1994 e 1998, foi a vez de Fernando Henrique Cardoso ganhar por maioria absoluta as votações no Amazonas. Indicado pelo PSB para ser vice na chapa de Nascimento, Serafim Corrêa afirma que houve ainda um investimento pessoal de Lula no passado e a ampliação dos programas federais no presente. "Lula nos anos 80 vinha aqui, fora da época de campanha, comer jaraqui (um peixe) com baião de dois no bar do galo Carijó. Em 1989 colocou 100 mil votos à frente de Brizola que foram essenciais para ele ir ao segundo turno", diz.
Naquela eleição, Lula teve 20% dos votos no Amazonas, resultado acima da sua média nacional, que foi de 16,5%, ou meio ponto percentual à frente de Leonel Brizola (PDT), o terceiro colocado. Como presidente, Lula ampliou nos últimos cinco anos de 15 mil para 115 mil o número de famílias atendidos pelo Bolsa Família no Estado. A força de Lula, contudo, jamais tornou o PT um partido relevante no Estado.
"Lula é bem querido aqui por uma razão bem simples: ele viajou muito para cá, navegou por todo o interior, nas caravanas da Cidadania. E se beneficiou nas últimas eleições pela demonização dos candidatos paulistas, como Geraldo Alckmin e José Serra", sintetiza um dos mais destacados adversários do presidente, o senador Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM).Valor
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Nota do moderador: Comentários preconceituosos, racistas e homofóbicos, assim como manifestações de intolerância religiosa, xingamentos, ofensas entre leitores, contra o blogueiro e a publicação não serão reproduzidos. Não é permitido postar vídeos e links. Os textos devem ter relação com o tema do post. Não serão publicados textos escritos inteiramente em letras maiúsculas. Os comentários reproduzidos não refletem a linha editorial do blog