O texto a seguir é de Fernando Borgonovi:
Num botequim do Jaçanã, dias atrás, veio o intervalo do Jornal da Record. Na quinta vinheta seguida do candidato José Serra, alguém no balcão protestou: "Pqp, de novo a mesma coisa?!"
A cena, real, aconteceu em um conhecido reduto dos votos conservadores - a aprazível zona norte paulistana.
O caso me fez pensar sobre algo que já desconfiava e agora foi corroborado pela pesquisa Ibope que trouxe Serra, em queda, com 35% dos votos, e Dilma, escalando consistentemente, com 40%.
Ao dar pitaco sobre esse levantamento, poderia debater a rejeição dos candidatos (outra má notícia para Serra), o voto na espontânea, a subida de Dilma no sudeste ou qualquer outra coisa, mas fico com minha desconfiança como tema.
A dúvida era: a lavagem cerebral na TV significa, de maneira automática, ascenso nas pesquisas? A esperança do cardinalato do PSDB dizia que sim, a vida veio demonstrar que não necessariamente.
Toda a oposição, os analistas, a mídia - enfim, os donos da "opinião" - correram a explicar os anteriores resultados de Dilma como produto direto - e somente isso - da exposição da candidata. Logo, de maneira inversa, a aparição de Serra no horário de PSDB, DEM e PPS alavancaria o tucano.
Essa explicação sozinha, por simplista, é apolítica, ignora a realidade e a conjuntura. Equivale o candidato a qualquer cacareco de gôndola de supermercado. Parece também um certo pensamento de fundo elitista, que ignora a possibilidade de o povo vir a ter posicionamento político, a despeito das marquetagens.
Vejamos: Serra já é conhecido da grande maioria do eleitorado. Exatamente pelos motivos que fazem com que seus defensores o apresentem como "mais preparado" - ou seja, ele já disputou um sem número de eleições.
Dessa forma, o candidato que não é nenhuma novidade teria de apresentar alguma para crescer, vinculando exposição com propostas, discurso, política. Não foi o que aconteceu. Aliás, vira técnico da França quem se lembrar de uma só ideia - fora o tal ministério da Segurança - apresentada pelo candidato até agora.
A campanha de Serra é um verdadeiro deserto de discurso. Diariamente, o tucanato tem se revezado para cumprir duas enfadonhas tarefas: falar do tal dossiê que não foi e explicar a dificuldade em arrumar um cristão que tope ser o candidato a vice. Sem contar, é claro, das dificuldades em fechar os palanques nos estados: ora Gabeira pode espirrar no Rio, ora Jarbas reclama por recursos em Pernambuco e por aí vai.
De resto, o candidato da oposição tem se resumido a produzir aquilo que produziu seu governo em SP: nada. A ideia vaga de um "eu faço mais", "eu faço melhor" não engana um criança de calção e bonezinho.
Se a economia cresceu a 9% no primeiro trimestre, o Serra vai dizer o que? Que poderia ter crescido mais? Diabos, nem a China cresceu. Numa ocasião ele mesmo falou: "o Lula está acima do bem e do mal". Mas dias depois foi comparar o presidente ao despótico Luís 14. Perdido, perdido.
Agora, cúmulo da desfaçatez, a coordenação da campanha tucana veio duvidar do resultado da pesquisa. Veja: pesquisa feita por um dos institutos que, ainda outro dia, o Arthur Virgílio evocou para desqualificar uma outra, do Sensus ou do Vox, que colocava já apontava Dilma na dianteira. Ou seja: agora como tábua de salvação só restou o Datafolha.
Enfim, o que quero dizer é uma coisa só: com TV e sem discurso, Serra caiu e Dilma cresceu. É tão simples como duro... Para eles. (Do Portal Vermelho)
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