Ministra abandona conselhos de marqueteiros e diz que sua verdadeira imagem rende votos. Com PAC e Lula isso pode ser bem mais fácil
Após sete meses de tratamento, ministra aparece em público sem peruca
Cansada de seguir as recomendações dos gurus do marketing para que se mostre uma pessoa mais simpática e afável, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT a presidente, decidiu aparecer para o público como ela mesma. O primeiro passo foi tirar a peruca, depois de sete meses. Ela usava o acessório desde maio, quando o cabelo começou a cair por causa da quimioterapia para o tratamento de um câncer linfático. Em solenidade no Itamaraty na segunda-feira 21, Dilma estreou, em público, seus cabelos naturais, de fios curtos e castanho-escuro. O novo visual é também um gesto de afirmação da forte personalidade da ex-guerrilheira. Em conversas com assessores nos últimos dias, a ministra decidiu que não se deixará mais moldar pelos mandamentos do marketing político. “Cansei de tentar ser outra pessoa. Vou ser quem eu sou”, disse ela.
Em vez de repetir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em 2002, passou a adotar o estilo “Paz e Amor”, Dilma quer transmitir a imagem de quem faz valer sua autoridade. E disseminar a ideia de que o êxito do segundo mandato do presidente Lula se deve, em parte, ao seu pulso firme à frente da Casa Civil. Para o cientista político Antonio Lavareda, a nova estratégia da campanha oficial é uma faca de dois gumes. “Dilma ser ela mesma é sempre positivo. O marketing que tenta ocultar as características do candidato tem grande risco de dar com os burros n’água”, disse à ISTOÉ. O problema, segundo Lavareda, é que o jeitão de durona pode não agradar à maioria dos eleitores.
Da mesma forma, o gesto de retirar a peruca pode ter dois efeitos. “Um ato como esse gera, em algumas pessoas, solidariedade. É uma postura corajosa evocar a doença que teve. Mas, para outras pessoas, menos informadas, pode gerar um ruído, pois Dilma foi vista de peruca em vários programas de tevê. Qual o efeito desse ruído de percepção visual na mente das pessoas é algo a ser investigado”. Antes de tomar a decisão de ser mais coerente com ela mesma, Dilma teve uma longa conversa com o marqueteiro Duda Mendonça, a quem confidenciou sua insatisfação com o processo de construção de sua imagem pública. No encontro, Duda mais ouviu do que falou. E ela saiu da reunião convencida de que está no caminho certo, ao decidir não mais interpretar uma personagem adocicada. Já a adoção dos cabelos naturais, sem a peruca, foi tema de uma conversa de Dilma com Lula há um mês. “Dilma me perguntou e eu falei que ela tinha mesmo que aposentar a peruca logo que o cabelo crescesse um pouco mais”, confirmou o presidente em evento no Itamaraty.
A partir dessa nova estratégia, com um perfil mais coerente, Dilma sabe que tem um desafio grande pela frente do ponto de vista eleitoral. Em São Paulo, o maior colégio de eleitores do País, o PSDB domina com folga as recentes pesquisas de opinião, que dão ao governador José Serra (PSDB) uma vantagem de até 12 milhões de votos sobre a pré-candidata petista no Estado. Isso significa 10% de todo o eleitorado nacional. Segundo a última pesquisa Datafolha, Serra tem 37% das intenções de voto dos paulistas, contra apenas 23% de Dilma, num cenário com a presença do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) na disputa. Uma diferença que a ministra dificilmente conseguirá compensar no resto do País. Ciente do desafio que tem pela frente, Dilma se prepara para pisar com força em terras paulistas no início de 2010. Segundo o cientista político Marcos Coimbra, diretor do Vox Populi, os índices que Dilma alcançou até agora – ela saiu de 3% há um ano – foram fruto da transferência de votos do presidente Lula. “Agora ela tem que mostrar que pode mudar de patamar”, disse Coimbra à ISTOÉ.
A estratégia para alavancar o apoio do eleitorado paulista se baseará em três frentes: colar a imagem de Dilma às realizações do governo Lula no Estado, destacando as obras e projetos sociais que receberam recursos federais, costurar uma ampla aliança partidária, e explorar o que o PT considera “problemas graves” da gestão tucana. “São Paulo é o centro das atenções. Lá não podemos errar”, alerta o deputado federal Cândido Vaccarezza (SP), líder do PT na Câmara e um dos articuladores da campanha de Dilma ao Planalto. O líder petista reforça o recado do presidente Lula para as bases de que o partido terá que compor com outras forças políticas para montar um palanque local forte e ajudar a dar a visibilidade que Dilma requer em São Paulo. Segundo ele, o PT deve buscar o apoio de partidos de centro, como o PR e o PMDB, em vez de se concentrar apenas nas forças de esquerda. “O PT precisa entender que, se 30% elegessem, não precisava de aliados. Se precisa de 50% mais um, precisa procurar os outros 20%”, disse.
Para ajudar Dilma, o governo criou uma espécie de força-tarefa com a participação de sete ministros, entre eles Guido Mantega, da Fazenda, Alexandre Padilha, de Relações Institucionais, e Marcio Fortes, das Cidades. “A vinculação da ministra a todos os programas federais importantes é uma coisa natural”, diz o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). “Vamos destacar que há 100 mil jovens beneficiados em São Paulo pelo ProUni. Além disso, três importantes rodovias estão em construção”, diz. Com o foco concentrado em São Paulo e sua imagem realista, Dilma aposta que a diferença para Serra cairá ainda mais nos próximos meses.Isto É
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