Executiva retoma ''projeto democrático e popular'', defendendo a ampliação do papel do Estado.
Com a pré-campanha eleitoral na rua, o PT afia, em discursos e documentos, uma linguagem que estava aposentada e não encaixava no figurino de um governo cada vez mais politicamente centrista. Com inflexão esquerdista, os petistas ressuscitaram o velho Consenso de Washington e até a ideia de um "projeto democrático, popular, nacionalista e internacionalista, de inclusão e participação popular". A ampliação do papel do Estado virou lugar comum nas declarações dos ministros.Na semana passada, essa guinada deu o tom no debate em torno do apagão de energia, ocorrido na última terça-feira, quando foi feita comparação com a crise do setor durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. "Aves de rapina não se aguentam de alegria pelo blecaute de ontem. Confundem o incidente com a falta de energia que parou o Brasil em 2001", rebateu o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), no dia 11 em seu twitter, classificando como "incidente" a falta de luz que atingiu 18 Estados.Antes desse problema, a comparação sobre os modelos de governo Lula e FHC já vinha sendo promovida pelos petistas em outras áreas. Considerado como um dos pontos centrais da campanha presidencial de 2010, o tema pré-sal é tratado como assunto de máximo interesse estratégico. Por conta disso, tornou-se simbólico para exemplificar a nova visão de fortalecimento do Estado pregada por governistas e pelo presidente Lula.
PRÉ-SAL
Em resolução aprovada por uma comissão da Executiva Nacional do PT, no dia 3 de setembro, o partido faz a defesa dessa linha de ação e provoca nova comparação com os rivais de campanha. "O lançamento do marco regulatório do pré-sal repõe o debate essencial: as opções estratégicas colocadas para o Brasil e o papel do Estado", diz o texto. "Decorridos quase sete anos de governo Lula, depois dos 12 anos de neoliberalismo, o confronto entre projetos tem contornos compreensíveis para largas parcelas do povo brasileiro."Segundo a resolução, "a própria descoberta das reservas do pré-sal - e muitas outras de petróleo e gás de menor profundidade - só foi possível a partir da retomada dos investimentos e apoio decidido do governo Lula à estatal".
NEOLIBERAIS
O documento emenda: "É pedagógica, nesse sentido, a reação dos setores conservadores ao discurso feito pelo presidente Lula no ato de lançamento do marco regulatório (do pré-sal). Alguns editoriais, comentários e análises trazem de volta o discurso neoliberal que levou o mundo à crise financeira e econômica. É papel do PT tratar a questão não apenas como a tramitação legislativa de um projeto técnico, mas como vetor simbólico do embate entre o projeto democrático, popular, nacionalista e internacionalista, de inclusão e participação popular, contra o projeto do Consenso de Washington, que vigorou no Brasil até 2002".
"DOIS BRASIS"
Pré-candidata do PT à sucessão de Lula, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, já incorporou o bordão "nós contra eles" nos eventos. "O que se jogará no ano que vem é o confronto entre dois Brasis. O que terminou em 2002 e o de 2009 e 2010", afirmou a ministra durante o encontro de prefeitos petistas, em Guarulhos, ocorrido no dia 7.Segundo os petistas, foi bem sucedida a estratégia adotada na campanha presidencial de 2006, entre Lula e Geraldo Alckmin (PSDB), justamente em torno da defesa do papel do Estado. Naquela eleição, os tucanos foram acusados de serem defensores de ampla privatização das companhias estatais.Na campanha, vendas de companhias como a Vale do Rio Doce foram criticadas e os petistas passaram a insinuar que os adversários negociariam outras empresas, como Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica, caso voltassem ao poder. Os tucanos não conseguiram ganhar esse debate junto à opinião pública.Na medida que a disputa presidencial avança para provável polarização entre PT e PSDB, a ideia dos governistas é usar essa guinada para marcar uma espécie de modelo petista durante a campanha eleitoral.Aliados do presidente fazem comparações entre a gestão Lula, iniciada em 2003, e a de Fernando Henrique Cardoso, exercida entre 1995 e 2002, apresentando Dilma como representante de um modelo em que o Estado terá participação cada vez maior. O discurso fica mais à esquerda do adotado pelo governo nos primeiros anos de mandato de Lula e durante sua campanha eleitoral. Após perder três eleições consecutivas, o petista só conseguiu vencer ao fazer movimento contrário do atual, buscando simpatia de setores liberais e conservadores.
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