quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Lula em Pernambuco

No sertão pernambucano, cerca de 8,4 mil pessoas trabalham dia e noite para apressar o andamento das obras de transposição do Rio São Francisco. Segundo o Ministério da Integração Nacional, as obras, iniciadas em setembro do ano passado, estão sendo realizadas em dois turnos de trabalho. A ideia é que pelo menos a primeira etapa, de construção do canal eixo leste, com 287 quilômetros de extensão, seja concluída até dezembro de 2010, antes do final do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A megaconstrução, com previsão de término total só em 2025, vai levar água do Rio São Francisco às regiões mais castigadas pela seca nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Ao participar, ontem, do evento que marcou o início da viagem por quatro estados para vistoriar as obras de revitalização e integração do Rio São Francisco, o presidente Lula garantiu que o projeto não será deixado pela metade, criticando governantes anteriores que ameaçaram realizar as obras mas não o fizeram. Ontem, o presidente Lula, acompanhado dos ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, começou um a série de visitas, que devem durar três dias, a vários pontos das obras do projeto de revitalização, transposição e integração do rio.

- Essa obra foi pensada em 1847.

Quase 200 anos depois, não conseguiu andar, porque tivemos muitos governantes de duas caras, que prometiam fazer a obra em um estado e não faziam e prometiam não fazer em outro estado - disparou Lula durante discurso em Buritizeiro, município de Minas Gerais. Já em Barra (BA), Lula afirmou, que as obras de transposição e revitalização do Rio São Francisco representam o pagamento de uma "dívida histórica" do país com o povo nordestino, forçado a conviver há séculos com o problema da seca. Lula disse também que os benefícios das obras estão sendo sentidos desde o momento em que elas começaram, com a geração de emprego e a movimentação da economia local.

O presidente disse ainda que em nenhuma das campanhas eleitorais das quais participou havia prometido realizar as obras, mas se sentia, como nordestino, moralmente obrigado a fazê-la. - Sei o que é andar com um balde na cabeça, por dez quilômetros, atrás de água.

Lula ponderou que não é possível retirar água do Rio São Francisco para matar a sede de 12 milhões de nordestinos sem antes recuperálo e citou ações como o reflorestamento para recuperar as matas ciliares e o tratamento de esgoto para evitar a contaminação do rio. Na Bahia, Lula inspecionou defletores e pontos de dragagem, além do controle de processos erosivos às margens do São Francisco a bordo de um navio - o Agência Flutuante Saldanha Marinho - da Marinha do Brasil.

Lula também disse não está preocupado em convencer os críticos do projeto.

- Não tenho preocupação em convencer opositores. A obra já foi aprovada pelo Meio Ambiente, a obra já está em execução. A sociedade já tem a dimensão. Eu espero que vocês tenham visto coisas aí, importantes, que mereçam a compreensão de vocês, e a obra vai ser concluída. Na verdade, sempre tem pessoas que são contra. Agora, as pessoas que são contra, certamente, não conhecem a situação que vive o povo do Semiárido - disse Lula.

Ainda ontem, Lula chegaria a Arcoverde, município pernambucano, onde visitaria o canteiro de obras em que são realizados trabalhos noturnos com perfuratrizes.

A previsão era de que o presidente passasse a noite em acampamento dos engenheiros envolvidos com as obras.

Detalhes De acordo com o Ministério da Integração Nacional, 4,5 mil máquinas já estão sendo usadas nas áreas onde as águas do rio passarão até chegar aos reservatórios dos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e Ceará. Segundo o órgão, no eixo leste serão construídas seis estações de bombeamento para levar as águas do São Francisco até a altura de 300 metros, de onde o canal seguirá com o apoio do efeito da gravidade. De acordo com informações do Ministério da Integração Nacional, responsável pela fiscalização do projeto, serão gastos inicialmente R$ 4,5 bilhões com as obras. Até 2025, a previsão é de que 12,5 milhões de pessoas sejam beneficiadas pela transposição.


Obras custarão inicialmente R$ 4,5 bilhões e devem beneficiar 12,5 milhões de pessoas

População de região visitada por presidente desconhece projeto

No município de Barra, no sertão da Bahia, durante o evento organizado para receber a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, muitos moradores da região ainda desconhecem o que quer dizer a revitalização do Rio São Francisco, nem sabem, também, se as obras trarão benefícios para o município e a população.

A dona de casa Valdina Pereira Torres, por exemplo, disse que sabia apenas um pouco sobre a finalidade das obras.

- Acho que tem a ver com a divisão das águas. Acho que se mexer com esse rio pode faltar água aqui pra gente - avaliou a moradora, acrescentando que estava ali apenas pela oportunidade de ver de perto o presidente Lula.

Assim como ela, o desempregado Gilmario de Souza desconhecia o trabalho que está sendo feito no Rio São Francisco. Questionado sobre o que era revitalização, ele disse nunca ter ouvido a palavra, mas afirmou que o rio está precisando de ajuda para sobreviver.

A moradora de Barra, Ana Machado Paixão, também afirmou não saber o que o processo de revitalização vai trazer para a cidade.

Empolgada com a presença do presidente, ela acreditava que o evento com a presença de autoridades do governo se tratava do anúncio de construção de novas casas.

- Eu acho que ele vai mandar fazer casas pra gente - disse.

Já o auxiliar administrativo Lucas Uchoa se disse preocupado com a possibilidade de a população de Barra ser prejudicada por causa da revitalização.

- Acho que para o pessoal que não tem água em outra cidade, (a revitalização) vai melhorar, mas pra gente de Barra não sei se vai ser bom porque a gente já tem água do rio - ponderou.

Entre o restante dos moradores, a maioria desconhecia o real motivo da visita de Lula e pouco sabia sobre trabalho desenvolvido na região. O funcionário público Clovis Lopes Guimarães era um dos poucos que sabia detalhar o projeto desenvolvido pelo Exército no município.

- A revitalização é para melhorar a condição de vida do rio, não soubemos proteger e está ocorrendo muito assoreamento - explicou.

O município de Barra faz parte do projeto-piloto desenvolvido pelo Exército para revitalizar o Rio São Francisco. Nessa primeira etapa, os militares trabalharão em 3,8 mil metros plantando mudas da vegetação local para evitar a destruição das margens do rio. Até o momento, em pouco mais de um ano de trabalho, já foram revitalizados 300 metros de margens. A expectativa é que, até o fim de 2010, toda a primeira etapa seja concluída.

Se, em Barra, a esperança dos moradores de receber casas não passava de um equívoco, em Pernambuco pelo menos para parte da população as expectativas tinham razão de ser. O agricultor Paulo Manoel da Silva, por exemplo, sempre enfrentou a seca do sertão pernambucano em um vilarejo próximo ao município de Cabrobó.

Plantava mandioca, feijão e milho.

Nos anos em que o período chuvoso durava pelo menos três meses, a colheita e a alimentação da família estavam garantidas. Porém, esses anos eram uma exceção.

Diferentemente dos dias em que roçava a terra seca, o agricultor torce agora para receber das mãos do presidente Lula, amanhã, a chave de umas das 52 casas no Núcleo Habitacional Fazenda Junco, destinado a pessoas que precisaram sair de suas casas para a realização das obras de revitalização do Rio São Francisco.

Ao todo, o projeto prevê a construção de 12 núcleos rurais como o da Fazenda Junco. Esses locais, chamados de Vilas Produtivas Rurais (VPR), abrigarão as mais de 700 famílias que foram desalojadas devido à construção dos eixos leste e norte. (ABr)

Para moradora, presença de Lula estava relacionada a construção de casas na região

Ao lado de Dilma e Ciro, Lula participa de comício

Ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), possíveis candidatos à Presidência da República em 2010, numa espécie de ato falho o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou seu discurso ontem em Buritizeiro (MG), onde visitou obras de revitalização do Rio São Francisco, falando em "comício", palavra normalmente associada à campanhas eleitorais.

- Primeiro, eu queria dizer para vocês que no nosso projeto original de fazer essa viagem, não estava previsto a gente fazer comício, estava previsto a gente visitar as obras - afirmou Lula, sem corrigir o fato de ter utilizado a palavra. O presidente saudou Ciro como "meu companheiro deputado federal, ex-ministro e companheiro que trabalhou para que este projeto pudesse ser realizado" e também chamou Dilma de "querida companheira". Após a cerimônia, Lula, Ciro e Dilma se encontraram com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB).

Questionado, o governador de Minas, disse não considerar a viagem do presidente "eleitoreira".

- Acho que o presidente tem todo o direito de viajar pelo país. Isso faz parte do jogo político - contemporizou o tucano.

Exigências ambientais são cumpridas, diz ministério

O Ministério da Integração Nacional garantiu ontem que todos os requisitos de proteção ambiental exigidos pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estão sendo cumpridos e que o Rio São Francisco será preservado durante as obras de transposição.

- Na licença ambiental que nos foi dada pelo Ibama, foram elencados 36 programas ambientais que visam a proteger o rio dos impactos da obra.

Esses 36 requisitos estão sendo cumpridos, portanto o rio não corre risco - disse o coordenador-geral do Projeto São Francisco, Frederico Oliveira, acrescentando que o objetivo da transposição é suprir a demanda da população por água limpa e que seu o eventual uso pelo agronegócio só será estudada se houver excedente.

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