quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Empresas de tecnologia reforçaram esquema do DEM

As principais empresas envolvidas nas denúncias de corrupção e crime eleitoral envolvendo a cúpula do governo do Distrito Federal e, em especial, seu governador, José Roberto Arruda (DEM), são ligadas ao setor de tecnologia da informação. No inquérito judicial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), há a informação de que Arruda reuniu durante a campanha eleitoral de 2006 empresários do setor estabelecidos no Distrito Federal para pedir-lhes a doação de R$ 1 milhão e pagamento de despesas de campanha em troca de "benefícios futuros".

Uma dessas empresas é a Info Educacional, cujo presidente, Alexandre Tavares de Assis, também conhecido como "Mineirinho", aparece em um dos vídeos gravados pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa. Ele é acusado de dar R$ 60 mil ao secretário de Educação do DF, José Luiz Valente, que atuou no Ministério da Educação entre 1997 e 2004, responsável pelo gerenciamento de projetos executados pela Secretaria de Educação Superior do MEC DF.

A empresa desenvolve programas de de alfabetização tecnológica e tem como clientes, além do Distrito Federal, quatro outros Estados: Rio Grande do Norte, da governadora Wilma de Faria (PSB), Amapá, do governador Waldez Góes (PDT), Minas Gerais, do governador Aécio Neves (PSDB), e São Paulo, do governador José Serra (PSDB).

Os contratos com o governo paulista, porém, foram assinados nas gestões passadas, de Geraldo Alckmin (PSDB) e Cláudio Lembo (DEM). Juntos, somam mais de R$ 10 milhões e se destinaram à contratação de um software educacional. Alckmin chegou até a visitar uma escola que tinha o software, ao lado do seu então secretário de Educação, Gabriel Chalita (ex-PSDB, hoje no PSB), conforme relata um texto extraído do site da empresa: "Tanto o governador quanto o secretário puderam conhecer de perto os benefícios do projeto, ao passarem o dia em uma aula de reforço de alunos do ensino fundamental em uma das escolas públicas beneficiadas pelo projeto". De acordo com o informe, entre 2004 e 2005, o projeto foi expandido de 1,1 mil escolas para 3 mil escolas. A Secretaria de Educação de São Paulo informou não ter mais contrato com a empresa.

O mesmo programa foi implementado em Minas Gerais em 2007, no primeiro ano do segundo mandato de Aécio, e, ainda segundo o site da empresa, "os resultados desta iniciativa foram tão significativos que a proposta foi integrada aos projetos estruturantes no ano de 2008". A empresa já recebeu diversos prêmios por sua atuação no mercado, dentre os quais se destaca o "Top of Quality", concedido pela Ordem dos Parlamentares do Brasil.

A holding TBA, um dos mais importantes parceiros comerciais da Microsoft na América Latina, por meio de uma de suas empresas, a B2BR, também é mencionada no depoimento de Durval Barbosa. Sua fundadora e presidente do Conselho Executivo, Cristina Boner, é citada oito vezes por ele. Os R$ 50 mil que Arruda é flagrado recebendo teriam origem nas empresas de Boner, destacada pelo ex-secretário como uma pessoa que "ganhou notoriedade nacional porque por muitos anos foi detentora exclusiva da comercialização dos produtos Microsoft, ganhando com isso notoriedade nacional".

Barbosa relata que Boner ganhou um contrato emergencial como parte de uma doação não-contabilizada de R$ R$ 1 milhão para a campanha de Arruda. Afirmou também que os contratos da TBA com o governo do Distrito Federal eram conseguidos com a intermediação do vice-governador, Paulo Otávio, tendo em vista que "Cristina e Arruda não têm bom relacionamento pessoal".

Procurada, Boner não quis se pronunciar sobre o assunto. Por meio de nota, a empresa informou que "não faz parte das empresas investigadas e repudia as especulações políticas e eleitoreiras que estão acontecendo". Citada nominalmente oito vezes no inquérito, Cristina está reunida com seus advogados e estuda a possibilidade de mover ação judicial contra Durval Barbosa.

O perfil dessas empresas de TI envolvidas no escândalo mostra que suas atuações vão além do Distrito Federal e com contratantes de variados partidos políticos. É também o caso da Vertax, que tem sede em Brasília e filial no Rio. No rol de clientes, aparecem a Caixa Seguros (ligada a Caixa Econômica Federal), Embratur, Câmara dos Deputados, Banco do Brasil, Metrô do Distrito Federal, Câmara Legislativa do Distrito Federal, Ministério das Comunicações, Tribunal Regional do Trabalho de Goiás e o governo do Estado do Paraná.

A empresa é citada nas denúncias com uma menção a R$ 2 milhões que seriam seus para abastecer o esquema de corrupção. Segundo a empresa, trata-se de um reconhecimento legal de dívida. A assessoria de imprensa relata ainda que está no mercado há 18 anos e tem faturamento projetado para este ano de R$ 45 milhões., dos quais 10% desta quantia se refere ao Distrito Federal e 3% a uma filial em Miami, nos Estados Unidos.

Outra envolvida é a Linknet, especializada em criação de softwares. Seu proprietário, Gilberto Lucena, é citado nominalmente por Durval Barbosa como integrante do esquema. Lucena já era conhecido da Polícia Federal por suspeita de financiamentos irregulares para a campanha à reeleição de Joaquim Roriz (PMDB), em 2002. Valor Econômico

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