quarta-feira, 8 de julho de 2015

Lúcia Vânia equidistante do discurso do PSDB


O que diriam os finados governadores Franco Montoro (SP), Mário Covas (SP) e Henrique Santillo (GO) sobre a guinada à extrema direita tomada pelo PSDB, partido que ajudaram a fundar nos idos de 1988? Primeiro presidente do PSDB, Montoro foi um dos fundadores do MDB e do PMDB e esteve na linha de frente da oposição à ditadura que o atual presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), chama saudosamente de "revolução".

Covas, que era líder do PMDB no período da Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), alinhou-se à esquerda contra o Centrão - bloco que aglutinava a direita no Congresso Nacional e tentava impedir avanços aos trabalhadores. Certamente, Covas ficaria horrorizado com as críticas do governador Marconi Perillo e do ex-presidente Fernando Henrique ao ex-presidente Lula, (PT-SP) a quem ele, Covas, apoiou no segundo turno de 1989 contra Fernando Collor (PRN).

Talvez, diante do quadro atual, que marca a negação dos valores sociais-democratas pela cúpula do PSDB, o saudoso governador Henrique Santillo diria que a senadora Lúcia Vânia marcou bem sua entrada no PSB,  rejeitando a radicalização do PSDB .

Em seu governo (1987-1990), Santillo foi um dos principais incentivadores do do SUS - Sistema Único de Saúde, implantando, em Goiás, a política de atendimento pleno à saúde com os Cais (Centro de Atendimento Integral a Saúde) e Ciams (Centros Integrados de Assistência Médico Sanitária). Na sua passagem no governo Itamar Franco (1993-1994), como ministro da Saúde, criou a caderneta de acompanhamento médico das crianças, orientando pais e a rede pública sobre as vacinas necessárias aos infantes e também foi  um dos pais dos medicamentos genéricos.

O progressista Santillo certamente aprovaria a saída de Lúcia do PSDB, partido no qual ela militou por cerca de 20 anos, tendo sida eleita deputada federal e senadora por duas vezes. Ex-primeira-dama do Estado, ainda no período da ditadura, Lúcia e o ex-esposo, o ex-governador Irapuam  Costa Júnior, romperam com o regime dos quartéis e filiaram-se ao PMDB de Iris Rezende Machado, em 1982. Neste partido, Lúcia seria eleita deputada federal e Irapuam, senador. Portanto, é compreensível sua crítica à guinada para extrema direita tomada pelo PSDB, cujo presidente, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), defende abertamente golpe de Estado para deposição da presidente Dilma Rousseff (PT).

No primeiro governo FHC (1995-1998), Lúcia Vânia foi ministra da Ação Social, quando foi criadora do Petti - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, que articula um conjunto de ações para retirar crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos da prática do trabalho precoce, exceto quando na condição de aprendiz, a partir de 14 anos -, Lúcia Vânia certamente não poderia ficar num partido que votou maciçamente pela redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, tirando as crianças da escola para jogá-las na cadeia.

Em seu discurso de despedida, Lúcia Vânia criticou o acirramento da polarização entre governistas e a oposição: "Não acredito em uma oposição movida a ódio. Saio em busca dessa utopia", sintetiza.

No PSB, Lúcia Vânia cresce. A senadora, que tem mais três anos e meio de mandato, pode se colocar como candidata ao governo do Estado em 2018, quando o governador Marconi Perilo não poderá ser candidato à reeleição e o vice José Eliton não é unanimidade nem sequer no seu próprio partido, o PP.

Lúcia não abre dissidência no governo de Marconi Perillo, onde, aliás, sua filha, Ana Carla Abrão, exerce uma das Pastas mais importantes, a Secretaria da Fazenda. Sua nova opção política, no entanto, abre possibilidades para que abra diálogo com forças para além da base governista e até para além do marconismo. É certo que o ódio, como ferramental da política, é instrumento de desgaste rápido e de difícil reposição. A esperança é mercadoria nobre, cujo ciclo tende a ser mais duradouro. A nova utopia da qual fala Lúcia passa longe dos discursos raivosos de Marconi e de FHC ou da misoginia de Aécio. Matéria do jornal Diário da Manhã

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nota do moderador: Comentários preconceituosos, racistas e homofóbicos, assim como manifestações de intolerância religiosa, xingamentos, ofensas entre leitores, contra o blogueiro e a publicação não serão reproduzidos. Não é permitido postar vídeos e links. Os textos devem ter relação com o tema do post. Não serão publicados textos escritos inteiramente em letras maiúsculas. Os comentários reproduzidos não refletem a linha editorial do blog