quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Serra foi presidente do “conselho de privatização” de FH

Vendo o rosto de Serra no debate de domingo - quando Dilma perguntou “quantas estatais você privatizou?” - forçoso é concluir que ele sabe que a privatização das estatais foi um crime. Não é apenas por motivos eleitorais que esconde a grande realização da sua vida. É também porque sabe que a privatização transformou o currículo de seus executores num código penal – coisa que os eleitores percebem mais rápido que alguns juízes.

Na página 8 desta edição, reproduzimos alguns trechos do livro “O Brasil privatizado”, de Aloysio Biondi, escritos naquela época de banditismo oficial. Serra tem uma intimidade anormal com seus aspectos mais tenebrosos: Ricardo Sérgio, o coletor de propinas da privatização, era seu caixa; o lobista da Iberdrola no assalto às empresas de eletricidade do Nordeste é seu primo por afinidade – e foi seu sócio.

Como disse Dilma, Serra foi presidente do “conselho de privatização” - que entregou, sobretudo ao capital estrangeiro, dezenas de estatais lucrativas e eficientes, inclusive 32 empresas de telecomunicações (fundidas em 13 para engordar o botim de cada assaltante), 10 bancos, 30 empresas de eletricidade e a maior mineradora do mundo, a Vale do Rio Doce, com todas as suas incalculáveis reservas.

Mas, desde domingo, Serra repete que irá “reforçar as estatais”, “fortalecer as estatais”, “melhorar as estatais”, “aperfeiçoar as estatais”, etc., etc., etc. & etc.

Não é apenas que não se deve levar a sério tal súbito amor às estatais, até porque Serra, ao mesmo tempo, defendeu a privatização das telecomunicações, aquela que entregou o setor a gangsters como Daniel Dantas e a quadrilhas externas como a Telefónica. Uma privatização que escorchou os usuários, instalando um monopólio bucaneiro que não conseguiu universalizar nem a telefonia fixa - aliás, a prova maior do seu fracasso é que, para universalizar a banda larga, não houve outra maneira senão recriar a Telebrás. O monopólio das teles só conseguiu concentrar, excluir – e roubar.

Mas, a necessidade de Serra fazer agora tais repetitivas declarações - quando até seu protetor já disse que o protegido é ainda mais privatizador do que ele, Fernando Henrique – é a confissão do crime que perpetrou e daquele que perpetraria, se tivesse outra oportunidade, do mesmo modo que os rituais de suposta honradez dos mafiosos só evidenciam o que eles realmente são.

O debate de domingo foi um confronto entre a mentira e a verdade. Serra não apresentou e nem vai apresentar o seu “programa”. Não apenas porque não há quem seja decente que vote nesse programa, mas porque criminosos não costumam expor o seu crime de boa vontade. Mentiroso sem respeito, disse que privatizador é o governo Lula, devido a “dois bancos” - omitindo que ambos (bancos estaduais do Maranhão e do Ceará) foram enfiados no programa de privatização por ele, Serra, e estavam sob leis estaduais, aprovadas sob coação do governo Fernando Henrique, que determinavam a sua venda. Se algo pode-se dizer do governo Lula, é que, em começo de mandato, não conseguiu ou não teve a ideia de que o Banco do Brasil adquirisse esses bancos – como fez, depois, com os demais deixados na mesma situação.

Porém, nada mostra mais o caráter de Serra – ou a falta dele – do que dizer que a criminosa venda de ações da Petrobrás ao capital estrangeiro é a mesma coisa que o governo Lula fez no Banco do Brasil.

Atualmente, depois da venda de ações do BB, o Tesouro Nacional tem 68,7% do capital, a Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB) tem 11,4%, o BNDES tem 5%, os acionistas nacionais privados têm 8% - e os acionistas estrangeiros têm meros 6,9%. Em resumo: o Estado brasileiro tem 85,1% do capital, os acionistas privados nacionais têm 8% e os estrangeiros, 6,9% do capital do BB.

O que tem isso com aquilo que os tucanos fizeram na Petrobrás, vendendo 36% das ações ao capital estrangeiro por 10% do seu valor real, fazendo o Estado ficar com apenas 38% do capital total da empresa? O que tem isso a ver com o esquartejamento da Petrobrás em 40 partes, para ser privatizada aos pedaços?

Debater com Serra não é meramente debater programas. Antes de tudo, é debater o caráter.

Na segunda-feira, o órgão oficial serrista, a “Folha de S. Paulo”, publicou que a srª. Monica Serra disse “a aliados” que realmente falou que Dilma “é a favor de matar criancinhas” - mas apenas porque seu interlocutor, o vendedor ambulante Edgar da Silva, eleitor de Dilma, “não sabia o que era feto”. Parece até que do ponto de vista da verdade faz alguma diferença se ela tivesse dito uma coisa e não outra... Mas, como a srª. Serra adivinhou que o eleitor de Dilma não sabia o que era “feto”? Porque o povo, para essa malta, é sempre ignorante, incapaz, estúpido – mais ainda quando não vota contra si próprio, isto é, neles. Deve ser isso o que a dita senhora ouve em casa todo dia.

A confissão da mulher de Serra era dispensável. No dia 14 de setembro, em Nova Iguaçu, sua atividade foi presenciada por uma repórter de outro órgão serrista, o provecto Estadão, que reproduziu a frase: “Ela [Dilma] é a favor de matar as criancinhas”. A propósito, a srª Serra deve ouvir outras coisas em casa, pois, além de negar em público o que confessa privadamente, enquanto seu marido prometia dobrar o Bolsa Família e até o 13º do Bolsa Família, ela disse, no Paraná, que, com o Bolsa Família, “as pessoas não querem mais trabalhar e estão ensinando isso para os filhos”. Logo, as pessoas que passam fome são vagabundas. A exclusão social, o massacre dos mais pobres, a lei da selva, o preconceito contra o povo, o apartheid para os mais humildes é inseparável do roubo à propriedade pública e do vandalismo sobre o Estado dessa ralé serrista – que merece plenamente esse nome.

Serra não defendeu sua cara-metade no debate. Aliás, disse, logo depois, que “não controla” a sua mulher, o que é mais uma mentira. Tanto controla que a usou e, depois de chamado às falas por Dilma, jogou unicamente sobre ela a culpa pelo conteúdo da sua campanha imunda, covarde (em uma palavra: nazista) de difamação contra Dilma. Quase 24 horas depois, apresentou-se como vítima de um “ataque à família”. Mas Dilma não atacou sua família. Apenas mostrou a origem da imundície.

No dia seguinte, disse também que “a oposição [isto é, ele] deve ser tratada com civilidade, como adversária, não como inimiga”.

Em suma, como todo sociopata, reivindica o direito de mentir, de agredir, de trair, de difamar, de jogar lama, de promover campanhas de esgoto - e não levar o troco por sua canalhice, troco que é constituído apenas pela revelação da verdade.

Pois que esse pequeno Mussolini continue tendo a ilusão de que isso é possível. Não será o primeiro a ter, por conta própria, as ilusões reduzidas a pó.Jornal Hora do Povo

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