terça-feira, 29 de junho de 2010

Aliança em cacos

 A um dia do prazo final para as convenções partidárias, o DEM e o PSDB ainda não entraram em acordo sobre o vice do presidenciável José Serra (PSDB). Até o início da noite de ontem, o partido aliado batia o pé. Queria indicar o nome, sob ameaça de abandonar a coligação. O PSDB insistia no senador tucano Álvaro Dias, do Paraná. A confusão poderá gerar prejuízo de 2 minutos e 9 segundos no tempo de cada inserção de televisão durante a propaganda eleitoral gratuita, caso o DEM abandone o barco. Nesse caso, o espaço para Serra apresentar propostas seria de quase cinco minutos por inserção. Nas pesquisas, o tucano está atrás da candidata do PT, Dilma Rousseff, que terá, levando em conta as parcerias atuais, oito minutos à disposição.

Num encontro em São Paulo na noite de ontem, Serra, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (BA), além do presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), tentavam uma solução. Cogitou-se retirar o senador Álvaro Dias do posto e ceder ao DEM ou até romper de vez o acordo. Pela manhã, Guerra afirmou que, se o DEM deixar a aliança, a eleição estará comprometida. “Temo que tenhamos, nesse episódio, atuado para comprometer a vitória”, disse, em entrevista à CBN. No Twitter, Maia amenizou. “Não há ultimato. Haverá um diálogo entre aliados.”

Em Santos, onde assistiu ao jogo do Brasil, Serra fugiu da polêmica. “É normal em política que em certas situações apareçam dificuldades. Mas não vai ter problema, não. Vai ter uma boa solução.”

Seja qual for a saída, a indicação de Álvaro Dias já provocou estragos. Candidatos a deputado, a senador e a governador nos estados — principalmente no Nordeste — já falam em cair fora da canoa tucana em âmbito nacional. O atrito era o fato político que faltava para esses candidatos não baterem de frente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja popularidade supera os 80% na região.

Diretórios do DEM nos estados, num eventual rompimento, esperam ampliar as representações no Congresso. “A bancada do Nordeste pode aumentar. Vamos eleger mais deputados”, estima um parlamentar ouvido pelo Correio. “Fora do DEM, o único vice que aceitaríamos seria o Aécio Neves.”

Na prática, há duas alas no DEM. Uma, mais ampla, quer o rompimento. A outra pede que o partido não pratique “radicalismos” e “açodamentos”, como afirma o deputado Felipe Maia (DEM-RN). Felipe é filho do senador José Agripino, líder do DEM no Senado. Em nota, Agripino declarou que “na relação entre DEM e PSDB não pode haver ultimatos nem fatos consumados”.

Convencimento
Antes da reunião de ontem, os tucanos tentavam convencer o DEM a aceitar Dias. Argumentavam que a escolha foi feita com base em pesquisas que apresentaram o senador como o nome de melhor imagem nacional dentre os cotados para a chapa. Além disso, há o fato de o irmão de Álvaro, o senador Osmar Dias (PDT), fechar as portas para a composição com o PT caso o tucano seja o vice. O próprio Álvaro, contudo, sustenta que pode ser melhor voltar atrás: “A prioridade é eleger Serra. O patriotismo e esse compromisso têm que falar mais alto”. O problema, avaliam alguns, é que o Democratas foi longe nas críticas à escolha dos tucanos para agora simplesmente aceitar a humilhação de seguir na coligação.
Temo que tenhamos, nesse episódio, atuado para comprometer a nossa vitória”
érgio Guerra, presidente do PSDB

Fogo amigo contra Alckmin

José Serra terá de lidar com um movimento interno de parte do PSDB paulista organizado para enfraquecer a campanha de Geraldo Alckmin ao Palácio dos Bandeirantes. O desgaste deve-se a feridas não fechadas da corrida municipal de dois anos atrás, quando tucanos organizaram um boicote(1) que culminou num desempenho pífio do ex-governador paulista na eleição regional.

Novamente insatisfeito, um grupo do PSDB aliado de Serra e do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab promete não fazer esforço por Alckmin. O movimento ocorre na esteira do anúncio de Milton Leite e Carlos Apolinário, vereadores paulistanos do DEM, de que pedirão votos para o adversário petista Aloizio Mercadante.

A comissão de frente é composta por tucanos que preferiram fazer campanha para o prefeito Gilberto Kassab (DEM) na última eleição. Na época, 11 dos 12 vereadores do PSDB integraram o grupo. Essa reedição do boicote tem nomes como o deputado Walter Feldman (PSDB-SP), que como ex-secretário municipal comprou briga com a campanha do ex-governador. Serra trabalha para conter a insatisfação. Ele vê São Paulo como fundamental na batalha contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, que aparece em vantagem em Minas Gerais e no Nordeste, segundo as mais recentes pesquisas de intenção de votos.

O primeiro movimento foi garantir que os vereadores que lideraram o veto a Alckmin tivessem uma reunião com o candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Gilberto Natalini e Ricardo Teixeira, expoentes do grupo dissidente, acabaram aparecendo ao lado do ex-governador. Há cerca de duas semanas, Kassab reuniu os 27 vereadores da base com Alckmin para lhe garantir apoio. O próprio prefeito tentou minimizar o apoio dos democratas a Mercadante. Ele informou à cúpula da campanha de Alckmin que Apolinário havia feito ameaças de apoiar o petista caso não conseguisse emplacar subprefeitos de sua confiança. “Esse tipo de apoio é dispensável”, disse o deputado Edson Aparecido (PSDB-SP).

Diferentemente do movimento de setores do DEM pró-Mercadante, esses tucanos trabalharão por Serra e ignorarão o ex-governador, num apoio mudo, como classificado por petistas. “Uma banda do PSDB vai dar um apoio não tão aberto para nós porque ficou muito ruim aquele episódio (da campanha municipal). E o troco virá agora”, disse um estrategista da campanha de Mercadante.

Contraponto
Segundo o deputado Edson Aparecido, há um contra-ataque à tentativa de desidratação promovida pela campanha petista. Alckmin tem buscado apoio de prefeitos paulistas do PSB, que lançou o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf ao governo, e do PDT, que tem a vice do PT, com Coca Ferraz, um ex-dirigente tucano. Aparecido minimizou rachas internos dentro do partido. “Nós temos um céu de brigadeiro em relação à outra eleição. A dobradinha Serra e Geraldo vem forte para ampliar a vantagem no estado para a eleição presidencial”, disse o deputado federal.

1 - Faltou consistência
Na campanha municipal, Alckmin começou como favorito na disputa, mas, por falta de apoio interno, acabou em terceiro, atrás do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e de Marta Suplicy (PT). De 41% das intenções de voto um ano antes da eleição, o tucano terminou com 22% no primeiro turno. Correio

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Nota do moderador: Comentários preconceituosos, racistas e homofóbicos, assim como manifestações de intolerância religiosa, xingamentos, ofensas entre leitores, contra o blogueiro e a publicação não serão reproduzidos. Não é permitido postar vídeos e links. Os textos devem ter relação com o tema do post. Não serão publicados textos escritos inteiramente em letras maiúsculas. Os comentários reproduzidos não refletem a linha editorial do blog