sexta-feira, 2 de abril de 2010

Nordeste é disputado pelas grandes varejistas

O mercado atacadista nordestino, onde o crescimento econômico da população se dá com maior intensidade nos últimos anos, será o palco de uma nova batalha pelo consumidor entre as grandes redes, como Grupo Pão de Açúcar (GPA), Carrefour e Walmart. Para encarar a disputa, empresas regionais de médio e pequeno porte, entre elas os atacadistas Grupo Carvalho e Karne Keijo, profissionalizam os negócios e diferenciam-se com produtos regionais e atendimento personalizado.

A guerra deve acontecer porque este ano as vendas do setor na região devem crescer mais do que 16%, ante os 10% previstos pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) para as vendas em todo o País. Com o avanço das principais supermercadistas para o interior brasileiro, porém, ao menos 30% do bolo deve ficar com lojas como Assaí, Maxxi e Atacadão, braço do Carrefour para vendas tanto por atacado como a varejo - o chamado "atacarejo".

Nos próximos anos, as maiores redes -GPA, Carrefour e Walmart- vão investir quase R$ 10 bilhões, somadas as pretensões das três empresas em projetos de expansão, a maior parte dos quais no nordeste. O Walmart, por exemplo, tem mais de 180 lojas na região e afirma que seu foco é ampliar o número de pontos-de- -venda em estados nordestinos.

De acordo com o presidente da Federação das Associações do Comércio, Indústria, Serviços e Agropecuária do Ceará (Facic), Francisco Barreto, a chegada das concorrentes no Ceará colocou as pequenas e médias empresas em situação delicada, por causa da disputa por preços. "Eles têm uma estrutura enorme e conseguem preços melhores", afirma. "Eles baixam muito a margem de produtos essenciais, e, como o consumidor da nossa região procura mais preço baixo, prefere comprar nessas lojas. Quando um consumidor vai à loja para comprar arroz, por exemplo, eles vendem também um chocolate diferente, alguma coisa a que as pessoas não estão acostumadas."

Segundo Barreto, a maneira mais prática de as redes locais segurarem sua fatia de mercado é aumentar o foco na venda de produtos regionais ou unir-se para ganhar poder de barganha com os fornecedores. "Acho que o diferencial pode ser a agilidade também", diz o presidente da Fecic, que vê uma avalanche de inaugurações das concorrentes do sudeste: "O Makro já está no Ceará, o Atacadão também, e tem bandeiras que levam 60 dias para se instalar no estado. Se não fizermos algo logo, teremos muitas dificuldades para disputar com eles", prevê Barreto.

Na opinião de empresários do nordeste, como Gerson Miranda -diretor comercial da Karne Keijo, rede atacadista de Pernambuco, que vê como principal fator o bater de frente com as novas concorrentes-, é preciso ter organização. "Estamos num momento muito bom e por isso aparece muita gente querendo uma parte do crescimento, mas quem estiver bem preparado não vai sofrer com a concorrência."

Reginaldo Carvalho, dono do Grupo Carvalho, acredita que apesar do ímpeto das três principais varejistas do País em abocanhar mercado na região, o mais importante é trabalhar direito para manter cativos os consumidores locais. "Vejo muita gente se preocupando com eles, mas a gente prefere continuar com o ritmo em que estávamos, porque a ação dessas redes faz parte do negócio", diz o empresário.

Para o presidente da Associação Brasileira de supermercados (Abras), Sussumu Honda, a saída para essas empresas é obter um grau maior de especialização e buscar locais em áreas mais próximas do campo de atuação dessas empresas. "Acho que elas precisam procurar nichos. É uma boa atuar onde as concorrentes têm mais dificuldades de operação", conta o presidente da Abras. "Um bom nicho para eles são os perecíveis", completa Sussumu.

Para Honda, é importante também que as pequenas e médias empresas comecem a pensar também em se unir por meio de associações e buscar vantagens com fornecedores. "O importante é que elas possam efetivamente ser atendidas por empresas que não as atendiam individualmente." De acordo com o presidente da Abras, para chegar à região com preços baixos, uma das estratégias das empresas é a abertura de lojas menores, como as de vizinhança, modelo que apresentou maior crescimento em vendas: 13,3%, nas lojas com 5 a 9 caixas registradoras (check-outs). Na contramão, os pontos-de-venda com mais de 50 check-outs tiveram queda de 7,8% em vendas.

Vendas

No balanço do mercado, apresentado ontem, as vendas do setor supermercadista registraram alta de 6,73% na comparação de fevereiro deste ano com o mesmo mês do ano passado; com relação a janeiro, as vendas tiveram queda de 6,27%. Na soma dos dois primeiros meses, os supermercados viram as vendas subir 7,67%. De acordo com o presidente da Abras, Sussumu Honda, a queda nos resultados de fevereiro, na comparação com janeiro, deve-se ao fato de o mês ter dois dias a menos. " É uma variação normal do período, por causa do fato de o mês ser mais curto, mas na comparação com o ano passado as vendas tiveram alta expressiva", afirmou ele.

Dados sobre o preço de 35 alimentos de larga escala de consumo, divulgados pela Abras mostram que o valor da cesta básica ficou 1,67% mais caro na comparação com janeiro deste ano - acima da variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPC-A), que ficou em 0,78%. Já o IPCA-Alimentos, teve alta de 0,96%.

Entre os motivadores, está principalmente, o aumento de valor do tomate, de 19,64%, e de açúcar, 9,67%. Considerando-se valores do ano de 2009, a cesta de produtos de larga escala de consumo passou de R$ 259,94 para R$ 268,25, o que representa uma alta de 3,20%. Na contramão, artigos como batata e feijão apresentaram retração de preço: 7,86% e 3,55%, respectivamente. Segundo Honda, a variação acima do IPCA-Alimentos pode ocorrer por causa da composição diferenciada DCI - SP

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