quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sem medo do mito Lula



Nesta abertura da nova década, até onde nos damos conta do que representa hoje a liderança de Lula, neste inédito de um absoluto respeito à democracia e penetração da consciência popular? Não se trata apenas dos 82% de apoio, que desarvoram todas as condições de um status quo de voltar ao poder na percepção do salto destes dois mandatos. Ou do que impeliu o inconsciente social brasileiro para um voto-opção em que, de vez, só existe a mão única para a conquista do desenvolvimento sustentado do país.

Esse “povo de Lula” sabe para onde vai, à margem do partido, no eixo das coalizões com o PMDB e impermeável aos escândalos moralistas. Ou melhor, percebe que são abominações próprias ao velho regime brasileiro, de perpetuação da sua cosa nostra, como agora evidencia a permanência de Arruda à frente do governo das propinas mais entranhadas na contabilidade da corrupção brasileira.

Não nos damos conta, também, do que é Lula lá fora, na sua concorrência, hoje, tão só com Obama, como protagonistas críveis de mudança nos ditos jogos feitos das hegemonias globais. Aí está aberta essa condição surpreendente e inesperada do nosso presidente em arbitragem no Oriente Médio. E, no descongelamento dos antigos eixos do mal, o Brasil tem aberto o caminho à convivência com o Irã, removendo o último fantasma da Guerra Fria na região.

Também não atentamos ao quanto o país excede as molduras mofinas da América Latina. E, como um dos Brics, já vai à comparação com a China e a Índia, enquanto nações voltadas para o seu gigantesco mercado interno e a subida da renda de suas populações, fora da antiga indigência das periferias frente aos seus centros indesmontáveis de poder.

Como vai a democracia coexistir com o mito Lula e como o administra o próprio presidente na solidão última que lhe impôs o seu sucesso? É, de saída, com a sua coloquialidade, que já o salvou das distâncias perversas do carisma ou das ascendências magnânimas. A liderança sindical, “ao contrário de todas as chefias militares, ou étnicas, que podem levar aos homens providenciais deste começo de século”, garante esse vis-à-vis ou este olho no olho de um legítimo contágio democrático.

Não temos precedentes de uma chegada como a do presidente ao poder, como também do imponderável passo à frente na saída do governo. Nem se espere a ruminação diante do próprio espelho, no impasse com que conta o elitismo brasileiro. O “Lula-cá” depois do “Lula-lá” é o do chopinho mal à vontade do Planalto, que volta às tendinhas de São Bernardo.

Por:Candido Mendes

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