terça-feira, 15 de dezembro de 2009

“Dilma pode ser considerada favorita para 2010”

Professor de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP), Gustavo Venturi afirma que a alta taxa de aprovação pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva – 83% conforme a pesquisa CNI/Ibope da semana passada – torna-o um excelente cabo eleitoral e faz com que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, seja a favorita para a sucessão presidencial de 2010. Da mesma forma, diz Venturi, com a aprovação do governo de Lula nos patamares atuais – que está em 73% de acordo com a pesquisa citada – nenhum candidato de oposição será imprudente de fazer críticas generalizadas à atual gestão.

Venturi esteve em Curitiba na semana passada para participar do 2.º Simpósio Nacional de Marketing Político e Opinião Pública, no qual falou sobre propaganda eleitoral e opinião pública nos 20 anos da redemocratização do país. Em entrevista à Gazeta do Povo, Venturi fez uma análise do cenário político atual.

Dada a alta aprovação do presidente Lula, como tende a ser o comportamento dos candidatos à sucessão presidencial em 2010? Pretenderão se posicionar como candidatos da continuidade do governo atual?

Depende de quem vir a ser candidato. O (governador de São Paulo) José Serra (PSDB) não tem como se posicionar como candidato da continuidade. Ao mesmo tempo, nenhum candidato em sã consciência vai querer bater de frente com o governo Lula. Porque o governo é bem avaliado, quase uma unanimidade na sociedade brasileira. Então, se pressupõe que a oposição vá buscar as brechas e falhas da atual administração e não fazer uma crítica generalizante do governo. O Serra, na campanha para a prefeitura de São Paulo em 2004 contra a Marta (Suplicy), por exemplo, não bateu de frente com ela. Serra dizia que Marta já tinha feito uma série de coisas boas, mas falava também: “Agora vamos fazer aquilo que ela não fez”. É de se esperar que o discurso da oposição caminhe nessa direção. Por isso essa será uma eleição mais pós-Lula que anti-Lula.

Nesse cenário, qual é o candidato favorito?

A Dilma pode ser considerada a favorita. O favoritismo da Dilma se deverá ao grau de aprovação do governo Lula. Se continuar nos patamares atuais, ela, sendo a candidata ungida pelo presidente, tenderá a traduzir, ao menos em parte, esse apoio em votos. Mas é claro que não será somente porque Lula dirá que vai apoiar Dilma que as pessoas que aprovam seu governo irão votar nela. Por esse motivo, evidentemente, está longe de ser uma eleição fechada.

Entre os governadores Aécio Neves (PSDB-MG) e José Serra, qual deles tem uma postura mais “pós-Lula”?

O Aécio não é tão marcado como oposição. A própria identidade de oposição dele não é tão forte e tão antiga quanto a de Serra. Ele tem articulações dentro do PMDB que talvez rompessem com o tipo de alinhamento que está ocorrendo com a maior parte dos peemedebistas e o PT hoje. E além de tudo tem a questão da “mineiridade”. Aécio tem uma parcela grande do eleitorado mineiro. E Minas Gerais é o segundo colégio do país.

O senhor considera que o marketing político tem cada vez mais dificuldade para convencer o eleitorado. Nesse sentido, qual é o peso da máquina do governo para vencer eleições?

Se for um esforço de última hora, não há diferença porque esse esforço vai se confundir com o marketing político. O que ocorre é que os alinhamentos, do ponto de vista do eleitorado e seu julgamento do governo, se dá ao longo do tempo. Um exemplo é o da Marta em 2004. Uma das críticas feitas a ela é que uma série de coisas que tinha realizado ocorreram no último ano de governo. Isso não corresponde exatamente como os fatos se deram, mas foi a imagem que ficou para os eleitores. Se a comunicação do governo dela tivesse conseguido passar as realizações que Marta fazia ao longo de seus quatro anos, seria diferente. Então o peso dos governos é de­­cisivo por causa do que os go­­­vernantes fazem durante todo o seu mandato.

Qual a influência da mídia no processo eleitoral?

A mídia tem uma influência grande na medida em que pode ocultar ou ressaltar determinados temas, fazer uma leitura dos fatos numa direção ou noutra. Mas o que os processos eleitorais presidenciais mostraram, em especial o de 2006, é que esse poder é limitado. Se a leitura for prontamente contra a que faz a população, essa leitura não será considerada. Em 2006, a campanha foi bastante desequilibrada. Numa valoração qualitativa, foi muito mais pró-Alckmin que pró-Lula. Ali ficou mais patente que quando não há uma sintonia da mídia com os anseios dos eleitores, a sua atuação pode não ter influência.Entrevista com Gustavo Venturi, professor de Ciências Políticas da USP, para o site Gazeta do Povo

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