domingo, 15 de novembro de 2009

A mãe do Lula

No Brasil para divulgar o filme sobre a vida do presidente, Glória Pires fala de novelas, de drogas e do medo de morrer

Glória Pires desembarca no Brasil nesta semana para a maratona de pré-estreias de "Lula, o Filho do Brasil", que será lançado no circuito comercial em janeiro. No filme, de Fábio Barreto, a atriz interpreta Lindu, a mãe do presidente da República, que partiu de Caetés, no interior de Pernambuco, há 57 anos, num pau de arara, para fugir da seca e tentar vida melhor em SP.

Antes de embarcar, a atriz conversou com a coluna por telefone, de Paris, onde passa temporada com o marido, Orlando Morais, e três filhos. Aos 46 anos, e comemorando 40 de carreira, Glória falou de Lula e de Paris, de novelas e de drogas, de dona Lindu e do medo de morrer. A seguir, um resumo:

O FILME

GLÓRIA PIRES - Eu vi uma cópia bruta, uma primeira montagem que mandaram para Paris.
Gostei muito do que vi. Agora, eu, particularmente, acho muito difícil me assistir. É uma coisa extremamente desconfortável para mim, eu tenho muita dificuldade. Então, cada estreia é um sofrimento. Eu não consigo relaxar, não consigo.

Eu quero que as pessoas assistam ao filme. E que levem um lençol. Eu chorei muito. O filme é muito bonito, tocante.Vi num CD com uma marca d'água escrito Glória Pires [para evitar pirataria]. Então fica aquele Glória Pires o tempo inteiro na tela, sabe? Pra ver um filme assim, e pra ter me emocionado, olha lá, hein?

FOLHA - Você não chora?

GLÓRIA - É um defeito da profissão. Mesmo quando vou como espectadora, estou sempre vendo a questão técnica, a forma como aquilo foi realizado, o resultado daquilo, sabe?

LULA

GLÓRIA - Eu não tinha a menor ideia [da vida de Lula]. É uma história bastante emocionante, sofrida. E é uma história tão comum, na verdade, que a gente ouve tanto, da pessoa que sai de uma situação onde tudo a empurra para ser de um jeito e ela transforma completamente o seu destino, contra todas as probabilidades. Então eu acho que as pessoas ficam muito mexidas com isso, porque por acaso essa história, que é como a de milhares de brasileiros, se passou com um homem que é nosso presidente, por dois mandatos. É muito impressionante.

FOLHA - O filme mostra as greves do ABC. Você acompanhava a carreira de Lula de perto nesta época?

GLÓRIA - Não, não.

FOLHA - Zezé Di Camargo já disse que tinha pânico do Lula na época. E você, o que pensava dele?

GLÓRIA - Eu... eu não pensava nada. Eu via. Não pensava nada.

FOLHA - Você votou nele em 89?

GLÓRIA - Ah, mas eu não gostaria de falar sobre isso. Sabe por quê? O que eu posso falar sobre o filme é o que eu fiz ali. Eu não posso dar opinião sobre o Lula ou sobre se eu votei nele. Eu não sei se é gentil, sabe? Eu fico me colocando no lugar dele. Ele é hoje o nosso presidente e de repente todo mundo vai ter acesso à história da vida dele.Ele tá tão exposto já, sabe?

FOLHA - É que eu fiquei curiosa.

GLÓRIA - É, eu votei, num momento eu votei nele.

FOLHA - Não teve medo, como a Regina Duarte?

GLÓRIA - Não, assim... Num determinado momento, quando começou a sair aquelas coisas todas do PT... mas eu não quero ir por aí. Sabe, tudo o que a gente conversar pode potencialmente ser publicado, né?

DONA LINDU

GLÓRIA - Eu participei de uma confraternização da família [de Lula]. Estavam todos os irmãos, menos o Lula. Antes que eu perguntasse, a família começava: "Ela era assim, ela era assado, ela era positiva". O que me tocou foi o estado de emoção das pessoas quando começavam a falar dela. Um primo dela falou: "Lindu era uma coisa linda. Era uma alegria". Embora fosse extremamente sofrida, tivesse perdido três filhos, três irmãos, apesar das dificuldades, ela gostava de contar piada, cantava. Era positiva, uma mulher muito viva.

FOLHA - Você conversou também com o presidente Lula em Brasília sobre dona Lindu, não é?

GLÓRIA - Seria um encontro de dez minutos e acabou durando quase uma hora. Eu queria informações sobre ela, qual das irmãs dele era mais parecida com a mãe, como era a voz dela, o jeito de ela falar. Ninguém sabia dizer exatamente. Ele falou que a voz dela parecia com a da irmã, Marinete. Foi o único dos filhos que me deu uma dica assim, precisa, sabe? Ele estava surpreso, interessado em saber um pouco do projeto [do filme].

CHAPA-BRANCA

GLÓRIA - As pessoas têm liberdade de fazer suas críticas, de gostarem ou não gostarem.

Mas eu não sinto o filme... ele não é chapa branca. Eu nem faria, porque não é o meu estilo.Ele conta uma história real, de uma pessoa que passou por aquelas coisas. Agora, se as pessoas vão falar, não vão falar, não dá nem pra ir por aí, né?

Mônica Bergamo

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